Crítica | Um Limite Entre Nós

 

O que esperar de um longa baseado em uma peça teatral? A primeira coisa que vem à cabeça é o espaço físico no qual a história irá se passar, porém, mesmo que “Um Limite Entre Nós” tivesse sido criado originalmente para o cinema, mas com a mesma ideia teatral como base, seu grande pecado, com certeza, estaria na saturação trazida ao público, seja pelo discurso repetitivo do seu personagem principal (leia-se, roteiro) e sua incessante maneira de ver o mundo com todo o seu senso de moralidade, seja pelas 02h19min de um filme que usa praticamente apenas um ambiente: a casa de Troy Maxson (Denzel Washington).

Ora, existem filmes que funcionam perfeitamente em um espaço limitado de locação. O que falar, então, de clássicos como 12 Homens e Uma Sentença e Gravidade? Um Estranho no Ninho e Birdman? Os antigos e os novos, separados por décadas, mas que memoravelmente funcionam, de maneira que se transformaram em verdadeiros clássicos. O mesmo não pode ser dito de Um Limite Entre Nós, terceiro trabalho de Denzel Washington como diretor.

Denzel Washington (Esquerda) e Viola Davis em cena de Um Limite Entre Nós.

A falha naquela restrição ambiental seria facilmente esquecida se o roteiro funcionasse no sentido de buscar a atenção da audiência. E não adianta ele ser munido de infinitas linhas como é exposto aqui, se falta compromisso em envolver o público, o fracasso é algo certo. O fato de 95% dele se passar dentro de uma casa (ou do seu terreno) apenas agrava ainda mais o seu desfecho.

Logo, a grande decepção do longa reside nesse encharcado roteiro de August Wilson (autor da peça, vencedor do Prêmio Pulitzer e que claramente criou uma trama para o teatro e não para o cinema), sempre com enunciados sobre as decepções encontradas na vida de Troy e de como ele, sozinho, conseguiu derrotar a morte, mostrando de maneira envaidecida e, ao mesmo tempo petulante, que ele é um exemplo a ser seguido, mesmo que, para tanto, ele coloque em risco a relação com os seus filhos e esposa.

Denzel, como sempre, mostra o potencial costumeiro de suas performances e até merece as indicações que recebeu. Contudo, este talvez seja seu papel mais chato de se assistir, pois, além de ser redundante em suas manifestações, ele é mentiroso e não aceita argumentos, conselhos ou advertências de quem quer que seja. Chato!

Viola Davis mostra porque é uma das grandes atrizes da atualidade com todo seu poder em cena. Venceu praticamente TUDO que disputou nesta temporada, incluindo os principais prêmios: Oscar, Bafta, Globo de Ouro, SAG e Critic’s Choice. Todavia, ver a mulher que já atuou em tantas obras, desempenhou papéis inesquecíveis – como em Dúvida, onde, atuando em não mais do que 10 minutos, teve indicações aos principais prêmios do cinema em 2009 – ter o seu reconhecimento materializado em prêmios com Um Limite Entre Nós, chega a ser como um pedido de desculpas por outros anos que foi ignorada.

 

Para completar as lambanças trazidas em sua escrita, o desfecho tenta, de maneira sabotadora e melodramática, salvar a pele de um personagem que passa quase 02 horas mostrando que faz questão de ser um ser humano desprezível, especialmente para a família (as verdadeiras vítimas da história). Até o pôster do filme poderia ter sido mais verdadeiro.

Enfim vemos as “cercas” (Fences) levantadas e nem mesmo elas conseguem prender o espectador, muito pelo contrário: a impressão que temos é que elas estão constantemente abertas para sairmos desse ambiente claustrofóbico.

Nota: 5,0.

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