George A. Romero e seu legado além de “A Noite dos Mortos-Vivos”.

Neste domingo, 16, perdemos o diretor George A. Romero, famoso por clássicos como “A Noite dos Mortos-Vivos” (Night of the Living Dead). Após uma dura luta contra um câncer de pulmão, ele faleceu aos 77 anos enquanto ouvia a trilha sonora do clássico “Depois do Vendaval”, de 1952, dirigido por John Ford e estrelado por John Wayne, um de seus filmes favoritos.

Romero é considerado o pai do zumbis por ter consolidado o gênero no final dos anos 1960. Mas, apesar de um título justo, não é o suficiente para descrever a importância e profundidade de sua obra.

“A Noite dos Mortos-Vivos” de 1968.

É fato que as regras utilizadas em filmes e séries de zumbis da atualidade como “The Walking Dead” e “Guerra Mundial Z” foram ditadas pelo filme “A Noite dos Mortos-Vivos” de 1968. Os zumbis surgiram ainda antes em filmes como “O Morto Ambulante” (The Walking Dead, 1936), “Mortos que Matam” (The Last Man on Earth, 1964) e “Epidemia de Zumbis” (The Plague of The Zumbies, 1966), mas antes eram alegorias monstruosas e não mais que isso. Foi Romero quem trouxe profundidade aos mortos-vivos tão amados nos dias de hoje. Foi ele que inseriu críticas sociopolíticas (nem sempre sutis) em seus filmes. Os zumbis surgiam como um símbolo da preocupação constante em relação a Guerra Fria, além de abordar críticas contra a cultura do consumismo advinda do capitalismo, discriminação racial (lembrando que ele colocou um negro para protagonizar seu filme), além de pequenas (grandes) coisas como o prazer na superioridade para com o mais fraco, algo também comum no capitalismo.

Sua primeira trilogia era genial, abordando esses fatores culturais que vinham surgindo. Com “Despertar dos Mortos” (Dawn of the Dead, 1978) ele trouxe consequências dessa cultura consumista do capitalismo mostrando a sua toxicidade. E, com “Dia dos Mortos” (Day of the Dead, 1985), mostrando uma certa domesticação dos zumbis.

“Terra dos Mortos” de 2005.

Além de trazer esse clima gore para seus filmes, George A. Romero se utilizava do cômico para fazer pensar. Todos os seus filmes possuem mensagens importantes além da diversão gratuita que os grandes estúdios de hoje nos proporcionam. E isso era algo que de fato o incomodava.
Dono de um filme que teve um orçamento de US$ 114 mil e arrecadou US$ 30 milhões mundialmente, o diretor deu uma entrevista na época do lançamento de “Guerra Mundial Z” onde mostrava seu descontentamento com as produções atuais.

(…) por causa de Guerra Mundial Z e The Walking Dead, eu não consigo mais fazer um filme pequeno e modesto de zumbis, que deveria ser algo sociopolítico. Eu costumava conseguir lançar alguma coisa com base em ação zumbi, e conseguia esconder mensagens dentro disso. Agora não consigo. No momento em que menciono a palavra zumbi, precisa ser algo como ‘olha, Brad Pitt pagou US$ 400 milhões para fazer isso’, disse em desagrado.

Anos depois ele lançou uma nova trilogia com “Terra dos Mortos” (Land of the Dead, 2005), “Diário dos Mortos” (Diary of the Dead, 2007) e “A Ilha dos Mortos” (Survival of the Dead, 2009). Apesar de não ser tão genial e refrescante quanto sua primeira, é longe de ser medíocre se comparado a obras recentes como a franquia Resident Evil e derivados. Até mesmo filmes aclamados como o próprio “Guerra Mundial Z”, que é um bom filme, não tem metade da profundidade por trás dos filmes de Romero.

“Exército de Extermínio” de 1973.

Apesar de ser um mestre no gênero, não só disso viveu o Nova Iorquino do Bronx. Seu segundo filme foi o drama “There’s Always Vanilla“, de 1971, sobre um jovem saído do exército dos EUA que quando volta a cidade natal conhece um mulher mais velha a qual se torna seu porto seguro tanto emocional quanto financeiramente. Além disso, lançou também “Exército de Extermínio” (The Crazies, 1973), um filme que, em suas mensagens implícitas, aborda uma sociedade capitalista em crise com a anarquia social causada por um vírus, sugerindo assim a perda da racionalidade impedindo o progresso. Além de ser uma alfinetada direta aos conflitos com Vietnã. Teve também “Martin” em 1977, um filme de vampiro onde se utiliza do sobrenatural para fazer uma crítica sobre a estrutura familiar. Ele já afirmou que, apesar de um pouco lembrado pela crítica, esse era um de seus projetos favoritos.

É difícil falar em George A. Romero e não pensar “no cara que reinventou os filmes de zumbi“, e esse é um mérito merecido e importante. Mas é bom lembrar que havia ideologia e crítica nas suas produções, que com orçamentos modestos ele fazia pérolas e não por falta de investimento, mas por ter a convicção de que não era preciso muito para isso, que a qualidade vinha do simples. E, apesar de não ser regra para o cinema no geral, para o seu era. E vai deixar saudades.

George Andrew Romero – * 04.02.1940 + 16.07.2017
Fontes: IMBD, Wikipedia, Boca do Inferno, Tiago Belotti e esse que vos fala.

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