Frame #2 | Inside Llewyn Davis – A balada de um homem comum

Inside Llewyn Davis – A balada de um homem comum

A regra do mundo é o fracasso

A vida é trágica. Estamos todos acostumados com filmes de Hollywood, onde a norma são os finais felizes, com personagens que passam por dificuldades, mas no final, sempre encontram seu amor, seu lugar no mundo e a felicidade. Porém, na vida real é diferente. Estamos todos perdidos, correndo em busca de nossos sonhos, lutando para viver e encontrar a almejada felicidade. Porém, nem sempre conseguimos. Aliás, a maioria não consegue. E é essa tragicidade da vida que “Inside Llewyn Davis (2013) ”, filme dos irmãos Coen, busca retratar.

O filme é um drama com uma pitada de humor negro – o que  já é peculiar do cinema dos irmãos Coen – e traz o personagem Llewyn Davis (Oscar Isaac), um talentoso músico de folk que não possui um teto para morar e perambula pela casa dos seus poucos amigos à procura de um sofá para dormir. Llewyn é o símbolo do fracasso. É o rei midas invertido. Tudo em que ele toca torna-se ruína. Sua vida é um desastre em todos os âmbitos, seja ele no amoroso ou profissional.

Mesmo habitando o fundo do poço, ele não deixa seu orgulho de lado.  Há em Llewyn a vontade de chegar ao topo e de alavancar a carreira solo. Porém, às vezes, parece se auto sabotar nesse processo. Llewyn é um romântico, que traz o peso da angústia da perda do seu parceiro e de não querer se adaptar a indústria. Quer que seu talento seja reconhecido de maneira “pura”. Como podemos ver quando ele tem a chance de gravar uma música comercial com seu amigo Jim (Justin Timberlake), e age com certo desdém em relação a qualidade da música, se abdicando de fazer parte dos royalties para receber um cachê rápido. Ou quando faz uma longa viagem para se apresentar para um empresário que poderia alavancar sua carreira, mas tendo a oportunidade, escolhe tocar a música “The Death of Queen Jane”, uma balada folk nada comercial sobre a morte durante um parto.

  

A vida de Llewyn é uma jornada sem destino e sem glórias como a de muitas pessoas comuns. Repleta de angústias, obstáculos e fracassos. É difícil aceitar essa realidade em um mundo que nos estimula sempre a conseguir o sucesso de todas as formas, onde empreendedores e livros de autoajuda afirmam que só depende de você para ganhar seu primeiro milhão antes dos trinta, ou onde a felicidade em uma casa de cerca branca é uma obrigação. Nem todos que tentam, conseguem atingir o sucesso.  Nem todos os Ulisses têm uma casa para onde voltar.

A cada Neymar, existem cem Zézinhos jogando por um salário mínimo, ou até mesmo, um prato de comida. A cada Bob Dylan, existem, pelo menos, cem Llewyn Davis.

“Inside Llewyn Davis” não é sobre o sucesso ou glamour, mas sim, sobre aquela maioria que não consegue chegar ao topo. Que vivem apenas fazendo o que ama, ou subsistem, matando um leão por dia, fazendo apenas o necessário para sobreviver.

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Thiago Henrique Muniz6 Posts

É estudante de Comunicação Social, cinéfilo, filósofo de boteco e gosta de escrever nas horas vagas

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