Crítica | Blade Runner 2049 (2017)

Por Gustavo Teodosio

Por 35 anos, Blade Runner foi aclamado como uma pérola cinematográfica. Primeiro como um clássico do cinema cult e então pelo grande público com sua magia visual e seu conto eticamente ambíguo. Se trata de um clássico difícil de ser reconstruído de modo que não transpareça ser apenas um caça níquel.

Especialmente depois de tanto tempo, qualquer sequência teria que realmente justificar a sua existência. Blade Runner 2049, pelas mãos magistrais do diretor Denis Villeneuve, se torna uma história distópica que vai além da mera justificação de uma continuação. Torna-se um dos melhores filmes de 2017 e consagra Villeneuve como um dos diretores mais competentes e emocionantes da atualidade.

Ridley Scott, que aqui é creditado como produtor, é bem conhecido por sua habilidade de enquadrar belas imagens, porém essa qualidade as vezes acaba por trair suas ambições narrativas. Já Villeneuve é o próximo nível que a sequência precisava para dar certo, porque BR 2049 é um filme lindo de se apreciar assim como possui também uma trama de tirar o fôlego.

Ryan Gosling e Sylvia Hoeks em cena de Blade Runner 2049.

São mais de duas horas e meia de projeção, mas o filme é bem sucedido e consegue usar bem seu tempo de duração. Não há um único tiro supérfluo enquanto você se senta para assistir o longa. Em todos os magníficos detalhes visuais e sonoros, de uma cascata de água que se espalha sobre uma barragem para a simetria geométrica de uma sala de cordas, ou mesmo no uso de luz e sombras, não há uma polegada na tela que não tenha sido meticulosamente detalhada para o impacto máximo.

É claro, não podemos comparar a versão de 1982 por seu legado visual ou artes conceituais. Enquanto Ridley Scott tomou emprestado os gostos de Fritz Lang (diretor de Metropolis, 1927) na elaboração do aspecto industrial do Blade Runner original, a estética de Villeneuve parece mais refinada do que um avanço inventivo, embora muito bem executada.

A trama em si é bastante direta de forma benéfica, permitindo que a ambientação visual e a performance brilhantemente restringida de Ryan Gosling brilhem mais.

Harrison Ford em Blade Runner 2049.

O diretor pediu aos críticos que os detalhes da história fossem divulgados o mínimo possível para que a audiência possa ter experiências sem o fardo de já saber qual o caminho do novo Blade Runner. Basicamente, 30 anos depois do original, Gosling interpreta um policial do LAPD, um Blade Runner, que descobre um segredo que ameaça destruir a frágil ordem social, ligado também a Rick Deckard (Harrison Ford), visto pela última vez fugindo Rachael.

O filme alude um desastre ecológico entre os eventos do filme original e a sequência, situado nas tempestades sempre presentes que enxaguam Los Angeles. A paleta de cores aqui é mais cinza e muda do que os maus tons de ocre do filme de 1982. Mas isso não significa que ele é incisivo. Mesmo em salas fechadas mais brancas, há uma imersão em manchas de sujeira nas superficies que lembra que este é um futuro distópico, não uma utopia.

A sequência está carregada de simbolismo, mas está mais preocupada com a nebulosidade entre o que é real e o que não é, e quem decide o que é real e o que não é. Talvez seja por isso que os Replicantes são identificados através de seus olhos, até porque Androids não deveriam possuir alma, e há o velho ditado que diz que “os olhos são a janela da alma“.

Jared Leto em cena de Blade Runner 2049.

O aspecto menos bem sucedido do filme é um miscelato Jared Leto tentando encenar o lírico sobre a criação. Bebendo tediosamente do pretensioso modo de filosofar sobre o assunto como nos filmes Prometheus e Alien: Covenant de Ridley Scott. Mas esse é apenas um pequeno erro num filme que de uma forma ou de outra soa impressionante.

Blade Runner 2049 é uma versão polida do seu antecessor pioneiro, e provavelmente não terá a mesma influência duradoura por ser apenas uma sequência, mas realmente é uma experiência cinematográfica brilhante.

Nota: 8.5

Blade Runner 2049 estreia hoje, dia 5 de outubro de 2017, no cinemas.

 

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